A criptoeconomia no Brasil e no mundo veio para ficar ou é moda passageira?

(Futurecom Digital) A criptoeconomia já vem sendo discutida há alguns anos e grandes empresas do mercado financeiro estão trabalhando para que a negociação e venda de ativos financeiros em formato de tokens, por exemplo, se popularize cada vez mais.

O que esperar, então, para esse novo segmento da economia nos próximos anos? Ele consistirá no novo paradigma econômico, de forma massiva, ou seguirá como um nicho?

Na visão dos especialistas que discutiram essa questão durante o Futurecom 2022, esse é um mercado que ainda está dando seus primeiros passos, especialmente no Brasil, mas que tende a se desenvolver e a se solidificar cada vez mais com o passar dos anos.

De acordo com a colunista do MIT Review e co-fundadora do The Global Strategy, Tatiana Revoredo, que mediou painel sobre o tema, a previsão é que em até cinco anos 12% da população mundial esteja inserida, de alguma forma, na criptoeconomia. “Mas, atualmente, há países que estão mais desenvolvidos nessa agenda, como é o caso dos Estados Unidos, onde 44% dos adultos já possuem criptomoedas”, relatou.

Criptomoedas na Comissão de Valores Mobiliários (CVM)

O painel do Future Payment aconteceu poucos dias após a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) emitir o Parecer de Orientação nº 40, que consolida o entendimento da autarquia sobre as normas aplicáveis aos criptoativos que forem considerados valores mobiliários. 

Além disso, o documento também apresenta os limites de atuação do regulador, indicando as possíveis formas de normatizar, fiscalizar, supervisionar e disciplinar agentes de mercado. O parecer tem caráter de recomendação e orientação ao mercado, com o objetivo de garantir maior previsibilidade, transparência e segurança para todos, bem como de fomentar um ambiente favorável ao desenvolvimento da criptoeconomia.

Presente ao debate, o chefe de gabinete da CVM, Pedro Castelar, falou da importância deste parecer e destacou que está vendo, cada vez mais, a economia real sendo tokenizada. “Trata-se de uma inovação que traz muitas facilidades, capazes de melhorar o giro da economia, reduzir o custo da transação, trazer transparência e facilidade de registros, como de titularidade, por exemplo”, analisou Castelar. “Muitos setores têm grande potencial para avançar neste segmento, como é o caso do agronegócio e também o de crédito.”

Criptomoeda é um caminho sem volta

Na ocasião, o diretor de cash management do Itaú BBA, Marcos Cavagnoli, disse que não acredita em uma reversão do mercado cripto, porque já existe uma quantidade grande de pessoas usufruindo deste universo e também por haver benefícios claros no campo dos ativos virtuais. “As pessoas gostaram de experimentar e é um mercado que já está circulando. Quanto mais a gente conseguir, agora, ter uma integração natural com o sistema financeiro, teremos um sistema cada vez mais robusto no futuro. Logo, é importante ter uma infraestrutura, não só regulatória, mas também tecnológica para dar segurança”, destacou o executivo.

Cavagnoli ainda comparou o movimento dos criptoativos com o fenômeno da cloud, onde ninguém compra a “nuvem”, mas os benefícios que ela proporciona, segurança, estabilidade e redução de custos, por exemplo. “A cripto está num momento de ascensão. Então, agora, é normal que haja um boom de expectativa, seguida de uma curva de solidificação na qual será preciso entender o que serve e o que agrega valor real de fato.”

Ver mais: Cibercriminoso usa desafio popular do TikTok para atrair usuários para instalação de pacote malicioso

Já para a superintendente de Inovação do Cartão Elo, Duda Davidovic, o Brasil, de uma forma geral, está muito no início dessa jornada e ainda não consegue vislumbrar a capacidade da criptoeconomia e tudo o que ela pode fazer para a sociedade. “Estamos numa fase como no início da internet, onde não imaginávamos que surgiria uma empresa que iria conseguir organizar todas as informações do mundo, que é o caso do Google. E quando a gente olha para cripto, há poucos anos ninguém estava dentro deste universo e, agora, temos um setor agro já trabalhando com a tokenização de grãos, fazendo disso uma moeda que habilita muitas outras possibilidade de uso”, avaliou.  “Se eu gerar um token, se eu sei gerir um smart contract e se eu consigo registrar isso numa blockchain, eu posso fazer muita coisa com isso.”

A executiva destacou que enxerga um potencial muito grande de aplicações com a tokenização, como o oferecimento de uma experiência nova para compra e venda de imóveis, de automóveis ou produtos de alto valor, que hoje é extremamente tradicional e limitada a cartório, contrato, assinaturas e reconhecimento de firma. “Há um potencial grande de melhoria para o usuário. Para isso, a tecnologia precisa avançar mais para dar segurança ao usuário.”

Desafios a superar com as criptomoedas

Apesar do consenso de que a criptoeconomia muito de desenvolverá nos próximos anos, o CEO da Stonoex, Ricardo Azevedo, acredita que o mercado cripto não virará mainstream. “As moedas digitais dos governos devem acomodar melhor essa questão do dinheiro digital. Mas, o que nós acreditamos são nos projetos de ecossistemas fechados. Então, por exemplo, a gente tem o token do café, do fertilizante, da soja, do trigo. Neste modelo, a empresa tem o produto digital representando um produto físico para o resgatar quando quiser”, explicou. 

O executivo também não acredita em uma grande revolução econômica e social a partir do desenvolvimento das moedas digitais. “O mercado cripto não muda a forma como a gente vive, ao contrário do que fez a internet. Ele é um incremento, uma melhoria, mas não é um elo de transformação total. Dimensionar bem as expectativas é muito importante. Esse mercado, basicamente, é uma tecnologia, que é a blockchain. O que foi lançando é uma tecnologia absolutamente confiável e segura, mas que não é o remédio para todos os males. Ela tem funções específicas.”

Para Azevedo, o grande desafio para esse mercado avançar está na construção de novas aplicações capazes de transformar cadeias e na organização das informações sobre essa tecnologia. “Este não é um mercado intuitivo. Não é algo que se compreenda rapidamente, especialmente pelas gerações mais antigas. Mas inovação é assim mesmo: começa bagunçada e depois vai se organizando. Acho que dá tempo de transformar o Brasil em uma grande potência dessa nova economia.”