Semicondutores: o impacto da escassez no mercado

No início de 2020, quando foi anunciada a crise sanitária global causada pelo coronavírus, muitas empresas pararam as produções de semicondutores. Tal realidade causou uma escassez sem precedentes no mercado de tecnologia.

Hoje, mais de dois anos após o início da pandemia, o mercado ainda sente os impactos da falta de matéria-prima.

Para entender melhor esse cenário, o Futurecom Digital conversou com o professor John Paul Hempel Lima, coordenador dos cursos de Engenharia do Centro Universitário FIAP. Veja, a seguir, os apontamentos que ele fez sobre o tema.

Entenda o que são e para que servem os semicondutores

Lima nos explicou que semicondutor é uma classe de materiais usada para fazer os chips eletrônicos, como as memórias de computador ou os processadores dos celulares.

“Em vez de usar o termo chip ou dispositivo eletrônico, a indústria usa o termo relacionado ao material. Como pode-se imaginar, em praticamente todos os dispositivos eletrônicos temos semicondutores. Eles estão presentes em smartwatches, celulares, automóveis, televisores etc”, analisa.

Razões para a falta de semicondutores no mercado

No entender de Lima, a matéria-prima para fabricar semicondutores não está em falta. Ele nos comentou que o produto é fabricado com silício, retirado da areia da praia, algo que temos em abundância.

Porém, as fábricas que transformam a areia em chips eletrônicos são altamente complexas de serem estruturadas, além de necessitarem de uma estrutura bastante cara.

“As fábricas contam com salas limpas que são praticamente isentas de poeira, já que na produção do chip uma simples fuligem pode danificar o produto. Por serem indústrias altamente complexas e caras, sua montagem é demorada e onerosa. O planejamento de implantação procura prever a demanda para 15 ou 20 anos”, pontua o professor.

Assim sendo, ele explica que: “Com a pandemia sendo um evento altamente inesperado, a demanda por equipamentos eletrônicos explodiu – desde webcams, novos notebooks ou novos televisores.”

Lima prossegue: “A indústria de semicondutores não estava preparada para essa demanda gigantesca, o que ocasionou a escassez de chips no mercado internacional”.

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Ele comentou ainda que: “Vimos também a criação do mercado de criptomoedas (evento inesperado pela indústria), o que aumentou mais a demanda por placas usadas para minerá-las.”

Impactos da escassez dos semicondutores no mercado

No entendimento de Lima, a indústria brasileira é totalmente dependente de chips importados da Ásia. Com a falta dos semicondutores no mercado internacional, as nossas fábricas foram fortemente impactadas.

“Além disso, a alta do dólar faz com que a indústria brasileira sofra mais ainda, pois a disponibilidade é reduzida e o custo muito alto. Muitos bens como automóveis, celulares e eletrônicos em geral começam a ter suas produções paralisadas além de ter um repasse intenso de custo aos produtos”, diz ele. 

O professor complementa: “É a tempestade perfeita, colocando em perigo muitos setores de tecnologia da indústria nacional.”

Previsão de estabilização para a escassez de semicondutores

Lima acredita que até o final de 2022 a escassez dos semicondutores mais simples deve diminuir de forma considerável. Porém para alguns tipos de chips mais complexos só devem ter a produção normalizada daqui 3 a 5 anos.

“O que a indústria tem feito é, quando possível, retirar características de seus produtos, simplificando-os para não disponibilizar tantas funções”, explica o especialista.

Ele também comenta que os Estados Unidos e alguns países da Europa começaram a investir em fábricas de semicondutores. No entanto, os resultados dessas operações é algo que só devemos ver nos próximos anos.

Fonte: Futurecom Digital