Uma rede chamada BitClout

O universo das redes sociais, por mais esgotado que pareça, sempre tem espaço para novidade. E, desta vez, o hit se chama BitClout. Criada por devs anônimos, a plataforma de interface similar à do Twitter permite que as pessoas façam postagens e, ao mesmo tempo, negociem criptomoedas exclusivas com base na reputação de figuras famosas ou públicas como se fossem empresas. Nas últimas 24 horas, foi atingido o volume de USD 5,1 milhões em negociações por lá, e seu estouro vem, sobretudo, da febre das principais criptos, tipo bitcoin e ethereum, que atingiram maior visibilidade nos últimos meses. Diferentemente das redes convencionais, o BitClout foi construído em uma blockchain e traz consigo a própria cripto, também apelidada de BitClout (BTCLT). Já na época de sua versão Beta, no começo do ano, a rede pirou a mente de investidores de peso, como Coinbase Venture, Andreessen Horowitz e Sequoia Capital, e agora promete sacudir o mundo das interações/negociações online como conhecemos.

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Meio Tio Patinhas

E como funciona esse rolê? O algoritmo do BitClout acompanha seguidores, posts, pontos de interesses, comentários e outros detalhes que servem de proxy para determinar se uma pessoa é pop. Para negociar no clubinho no modo público, é necessário autenticar a conta por meio de um tuíte via perfil do BitClout e comprar sua moeda nativa, que custa em torno de USD 175. Cada uma das figuras públicas fica associada a um “creator coin” — no bom português, tokens ou moedas sociais. Dito isso, já dá para sacar que, assim como vemos nas negociações de criptos, o valor desses ativos oscila diante do nível de popularidade de seu “dono”. Apesar dessa opção, a plataforma ainda permite que os usuários façam transações de compra e venda de criptos de modo anônimo.

O Bit não poupa ninguém

Uma vantagem é que cada usuário do BitClout recebe certa porcentagem sobre as negociações das próprias moedas, até para que possa expandir sua popularidade – e ganhar grana, é claro. Para ter contas de figuras públicas, o algoritmo do BitClout puxou dezenas de milhares dos perfis mais bombados do Twitter. Daí, a partir dessas infos, gerou pré-registros associados a essas pessoas, mesmo que elas não tenham autorizado ou talvez nem saibam de sua existência — aliás, isso já até gerou pedidos de remoção de imagem, como do primeiro-ministro de Cingapura. Para se ter uma ideia, Elon Musk (ainda) não entrou real oficial na rede, porém sua cripto, que é a mais pop por lá, vale USD 54,4 mil (por que choras, bitcoin?). Como cada conta ganha um extra por negociação fechada, Musk teria quase USD 6 milhões a sua espera, caso quisesse entrar na jogada.

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Defendendo a afronta

Em sua defesa, Diamondhands — como se apresenta um dos criadores da plataforma — disse tempos atrás ao CoinDesk que a geração automática dessas contas evitaria a criação de perfis fakes. Entretanto, essa explicação pode cair por terra quando pensamos que um de seus maiores atrativos é justamente a existência, mesmo que “fantasma”, das figuras famosas para atrair monetização. Já um expert do setor ouvido pelo veículo acredita que o combo de rede social, influência e negociação de criptos pode dar ruim em certo momento. Afinal, na opinião dele, abre-se aí uma imensa oportunidade para as pessoas procurarem se dar bem destruindo a reputação dos outros na web.

Efeito bittersweet

Por outro lado, mesmo com seus defeitos, o BitClout poderia estrear um novo jeito de negociar e entender o mercado das criptos, beneficiando inclusive criadores de conteúdo. Assim como vemos rolar em plataformas de projeto de NFT ou de crowdfunding, por lá artistas e outros criadores podem oferecer conteúdo, vantagens e peças exclusivas a investidores, por exemplo. Da mesma forma, essa galera teria a chance de diversificar sua carteira de investimentos, em especial se a plataforma passar por aprimoramentos. Em sua coluna na Folha de S. Paulo, Ronaldo Lemos diz enxergar aí até um potencial espaço de aprendizado sobre o “bê-á-bá” sobre as criptos, já que envolve todos os seus conceitos e operações. Por aqui, achamos que, diante do fato de ser um produto novo (e polêmico), ainda é cedo para qualquer pessoa embarcar nessa onda — até porque o mercado das criptos não é brinquedo, não.